Dupla de artistas cria ferramenta para clonar sites. Mas isso é arte?

Por Thiago Ney

The New York Times. BBC. TechCrunch. Fox News. ONU.

Esses são alguns dos sites que podem ser “clonados” facilmente por qualquer um. Você não precisa ter os conhecimentos de um hacker para utilizar a ferramenta Clone Zone, que permite que uma página da internet seja duplicada e depois editada com o conteúdo que o usuário desejar.

Captura de Tela 2016-03-10 às 16.50.59
Reprodução do site Clone Zone

Na prática, você pode escolher, por exemplo, uma página do New York Times, cloná-la e editá-la com informações falsas. E depois pode distribuir o link por meio de redes sociais como se fosse realmente um material publicado pelo centenário jornal norte-americano.

Isso foi feito e teve repercussão ruidosa. Há pouco tempo, por meio do Clone Zone, alguém espalhou uma página com o layout do NYT, com a assinatura de um repórter do NYT, que afirmava que a senadora Elizabeth Warren estaria apoiando a candidatura do pré-candidato democrata Bernie Sanders.

O artigo falso teve mais de 50 mil visualizações e foi compartilhado por 15 mil pessoas no Facebook até ser retirado do ar, a pedido do New York Times – o jornal chegou a publicar um texto explicando o caso. Até mesmo profissionais envolvidos na campanha de Sanders repassaram a notícia falsa.

O Clone Zone foi criado por um estúdio chamado 4Real, no qual trabalham os artistas e designers Analisa Teachworth e Slava Balasnov e baseado em Nova York – o estúdio integra uma incubadora de start-ups ligada ao New Museum, instituição nova-iorquina dedicada à arte contemporânea.

O argumento de Analisa e Slava para justificar a criação do Clone Zone e responder às críticas de que a ferramenta serve apenas para a distribuição de notícias falsas (com consequências que podem ser graves) é o de que o site é um projeto “artístico”.

“Nossa perspectiva é a de que arte pode ser qualquer coisa. (O Clone Zone) É uma observação sobre como a informação é espalhada”, disse Analisa ao “Washington Post”.

O Motherboard, site da Vice, lembra que o Clone Zone não é o primeiro caso de clonagem de sites – em 1998, uma dupla de italianos usou o endereço vaticano.org para criticar a Igreka Católica, e o coletivo Yes Men criou diversos sites falsos para zombar de empresas e personalidades como George W. Bush e Dow Chemical.

A diferença é que, como disse acima, o Clone Zone é uma ferramenta aberta e que pode ser utilizada por qualquer pessoa.

Ao site Hopes and Fears, a dupla afirma que há uma “ideia conceitual” por trás do Clone Zone. “O que é informação real e o que é informação falsa hoje em dia? Em quem você pode confiar e em que você não pode?” Slava diz que o interesse está em ver “pessoas usando a ferramenta para criar um conteúdo de qualidade de uma maneira crítica ou subversiva”.

O argumento me parece bem fraco. Conteúdo de qualidade, crítico ou subversivo, pode ser feito e distribuído de inúmeras formas (blogs, sites autorais etc.). Quanto a ser uma peça artística, fica ao gosto do freguês.