PlayPlay http://play.blogfolha.uol.com.br a cultura que habita o meio digital Sat, 12 Mar 2016 16:06:32 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Dupla de artistas cria ferramenta para clonar sites. Mas isso é arte? http://play.blogfolha.uol.com.br/2016/03/12/dupla-de-artistas-cria-ferramenta-para-clonar-sites-mas-isso-e-arte/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2016/03/12/dupla-de-artistas-cria-ferramenta-para-clonar-sites-mas-isso-e-arte/#respond Sat, 12 Mar 2016 16:06:32 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=107 The New York Times. BBC. TechCrunch. Fox News. ONU.

Esses são alguns dos sites que podem ser “clonados” facilmente por qualquer um. Você não precisa ter os conhecimentos de um hacker para utilizar a ferramenta Clone Zone, que permite que uma página da internet seja duplicada e depois editada com o conteúdo que o usuário desejar.

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Reprodução do site Clone Zone

Na prática, você pode escolher, por exemplo, uma página do New York Times, cloná-la e editá-la com informações falsas. E depois pode distribuir o link por meio de redes sociais como se fosse realmente um material publicado pelo centenário jornal norte-americano.

Isso foi feito e teve repercussão ruidosa. Há pouco tempo, por meio do Clone Zone, alguém espalhou uma página com o layout do NYT, com a assinatura de um repórter do NYT, que afirmava que a senadora Elizabeth Warren estaria apoiando a candidatura do pré-candidato democrata Bernie Sanders.

O artigo falso teve mais de 50 mil visualizações e foi compartilhado por 15 mil pessoas no Facebook até ser retirado do ar, a pedido do New York Times – o jornal chegou a publicar um texto explicando o caso. Até mesmo profissionais envolvidos na campanha de Sanders repassaram a notícia falsa.

O Clone Zone foi criado por um estúdio chamado 4Real, no qual trabalham os artistas e designers Analisa Teachworth e Slava Balasnov e baseado em Nova York – o estúdio integra uma incubadora de start-ups ligada ao New Museum, instituição nova-iorquina dedicada à arte contemporânea.

O argumento de Analisa e Slava para justificar a criação do Clone Zone e responder às críticas de que a ferramenta serve apenas para a distribuição de notícias falsas (com consequências que podem ser graves) é o de que o site é um projeto “artístico”.

“Nossa perspectiva é a de que arte pode ser qualquer coisa. (O Clone Zone) É uma observação sobre como a informação é espalhada”, disse Analisa ao “Washington Post”.

O Motherboard, site da Vice, lembra que o Clone Zone não é o primeiro caso de clonagem de sites – em 1998, uma dupla de italianos usou o endereço vaticano.org para criticar a Igreka Católica, e o coletivo Yes Men criou diversos sites falsos para zombar de empresas e personalidades como George W. Bush e Dow Chemical.

A diferença é que, como disse acima, o Clone Zone é uma ferramenta aberta e que pode ser utilizada por qualquer pessoa.

Ao site Hopes and Fears, a dupla afirma que há uma “ideia conceitual” por trás do Clone Zone. “O que é informação real e o que é informação falsa hoje em dia? Em quem você pode confiar e em que você não pode?” Slava diz que o interesse está em ver “pessoas usando a ferramenta para criar um conteúdo de qualidade de uma maneira crítica ou subversiva”.

O argumento me parece bem fraco. Conteúdo de qualidade, crítico ou subversivo, pode ser feito e distribuído de inúmeras formas (blogs, sites autorais etc.). Quanto a ser uma peça artística, fica ao gosto do freguês.

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Playlists para ouvir David Bowie – com sugestões de Bono e Ricky Gervais http://play.blogfolha.uol.com.br/2016/01/12/playlists-para-ouvir-david-bowie-com-sugestoes-de-bono-e-ricky-gervais/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2016/01/12/playlists-para-ouvir-david-bowie-com-sugestoes-de-bono-e-ricky-gervais/#respond Tue, 12 Jan 2016 18:59:26 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=98 Uma playlist com faixas marcantes de David Bowie pode durar horas e horas. Foram mais de quatro décadas de uma carreira que passou por praticamente todos os estilos musicais, do rock ao rap, da eletrônica ao jazz, e que foi encerrada no domingo passado (10).

De revistas a plataformas de streaming, vários veículos escolheram canções para homenagear Bowie. Separei algumas abaixo, inclusive as favoritas de gente como Bono e o comediante Ricky Gervais, que apresentou o Globo de Ouro também no domingo.

Em entrevista ao jornal britânico “Telegraph” para divulgar a série “Extras” (na qual Bowie fez uma participação especial), Gervais contou quais eram suas músicas prediletas do cantor. Uma que chama a atenção é a quase esquecida “Letter to Hermione”, que está no disco “Space Oddity”, de 1969. “‘Letter to Hermione’ não é a primeira canção que vem à cabeça porque é realmente muito simples, apenas ele e um violão. Mas a letra é tão linda”, diz Gervais.

Em 2010, em uma edição especial sobre playlists, a “Rolling Stone” pediu a vários artistas que escolhessem músicas de outros artistas. Bono ficou com David Bowie. “O U2 deve muito a ele. Nos introduziu a Berlim e ao Hansa Studio e a colaborar com Brian Eno”, disse Bono. Sua seleção está abaixo.

A “Dazed” criou uma playlist focada na aproximação de Bowie com os sintetizadores. Tem muita coisa nada óbvia.

Já a BBC escolheu 38 músicas que vão desde os hits mais manjados e faixas menos conhecidas.

 

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Streaming virou a esperança da indústria da música http://play.blogfolha.uol.com.br/2016/01/08/se-voce-compra-musica-digital-voce-e-uma-especie-em-extincao/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2016/01/08/se-voce-compra-musica-digital-voce-e-uma-especie-em-extincao/#respond Fri, 08 Jan 2016 17:50:00 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=90 O mundo digital obriga o mundo da música a acompanhar o seu ritmo. Há cerca de não mais do que 10, 12 anos, o download pago de discos e canções era considerado pelos executivos de gravadora como o modelo que iria salvar a combalida indústria fonográfica. Hoje esse cenário é bem diferente.

Primeiro, aos fatos. O número de downloads pagos de faixas caiu 12,5% de 2014 para 2015, com 964,8 milhões de unidades (primeira vez desde 2007 que esse número fica abaixo do 1 bilhão). Essa curva está decrescente desde 2012.

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Já as vendas de discos inteiros caíram menos em relação ao ano anterior, 2,9%, com 103,3 milhões. Esses dados foram compilados pela Nielsen, no mercado norte-americano (não há dados confiáveis referentes ao Brasil).

Se o download pago vem caindo, o streaming aparece como a nova esperança para a indústria. Em 2015, 317,2 bilhões de streaming foram feitos em serviços como Spotify, Deezer, Apple Music, Tidal, entre outros. Esse número é praticamente o dobro do de 2014, 164,5 bilhões.

Segundo, às previsões. Com base nos dados históricos da Nielsen, o site Digital Music News estimou o número de vendas de downloads para os próximos anos. O resultado aponta para baixo. Em 2021, esse mercado deve cair 93% (veja abaixo).

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Entende-se essa alteração do modelo de consumo de música. O streaming é muito mais prático e mais barato do que o download pago. A única vantagem do download, a de você “ter” a música, não chega a ser tão atraente em um mundo em que o acesso à rede é vasto e quando os serviços de streaming deixam o usuário selecionar faixas para ouvir offline. Esse comportamento está inserido dentro do que muito especialistas chamam de “sharing economy” – hoje, vale mais a pena compartilhar do que possuir.

Dois dados curiosos:

o disco mais vendido de 2015 foi “25”, da onipresente Adele, com 7,4 milhões de cópias (quase o dobro do que vendeu “1989”, de Taylor Swift, em 2014, e o número mais alto para um disco desde 2004);

– as vendas de vinil continuam modestas, mas em curva ascendente. Em 2015, foram vendidas 11,92 milhões de unidades de vinil (30% maior do que em 2014). O vinil mais vendido foi “25”, com 116 mil cópias.

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A melhor série sobre mulheres não está na TV, mas na web http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/12/09/a-melhor-serie-sobre-mulheres-nao-esta-na-tv-mas-na-web/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/12/09/a-melhor-serie-sobre-mulheres-nao-esta-na-tv-mas-na-web/#respond Wed, 09 Dec 2015 14:42:26 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=82 Andrea (esq.) e Leanne (centro), as duas ex-amigas de "Ex-Best"
Andrea (esq.) e Leanne (centro), as duas ex-amigas de “Ex-Best”

Em “Ex-Best”, Leanne (interpretada por Monica Hewes, que já participou de “Masters of Sex” e “American Horror Story”) e Andrea (Diana Gettinger, “The Riches”) são duas melhores amigas que fazem uma viagem à Islândia. Algo acontece antes de retornarem aos EUA e, quando estão à procura de um táxi no aeroporto, na primeira cena do primeiro episódio, vemos que as duas já não são mais melhores amigas.

Os 13 episódios (curtos, cada um com quatro ou cinco minutos de duração) do seriado podem ser vistos no site (o primeiro está acima) desta série que retrata mulheres não como neuróticas e fragilizadas que passam o tempo à caça de homens e fazendo compras. Aqui, o que importa é a relação de amizade entre as duas, que era tão sólida que, ao desmoronar, desmantelou junto a vida de ambas.

Mas “Ex-Best” não aponta para o drama – faz graça com a situação das duas nos relacionamentos com família, namorados e no ambiente de trabalho. Nos episódios finais, ficamos sabendo aos poucos o que aconteceu na viagem, e o que faz de “Ex-Best” tão especial nem é alguma grande surpresa ou a intensidade das piadas, mas a normalidade com que trata a relação dessas duas mulheres tão comuns e intrigantes.

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O que significa o trabalho? Um podcast de música pop ajuda a explicar http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/12/08/o-que-significa-o-trabalho-a-musica-pop-ajuda-a-explicar/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/12/08/o-que-significa-o-trabalho-a-musica-pop-ajuda-a-explicar/#respond Tue, 08 Dec 2015 17:55:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=72 Política, sociologia, história. E música pop. Esses temas se embaralham no recém-criado (e ótimo) podcast Beholder Halfway, que faz parte de uma nova plataforma inglesa de rádio e conteúdo online chamada Resonance Extra.

O programa é apresentado por Paul Rekret, um professor de teoria política da londrina Richmond University (e também crítico pop – já escreveu artigos como o papel da crianças no hip hop). O primeiro episódio, que pode ser ouvido aqui, estreou no último dia 3.

À parte a locução nada atrativa de Rekret (afinal, o cara é professor de teoria política), o podcast é diferente de todos os outros sobre música ou cultura pop porque relaciona canções com temas específicos.

Por exemplo, o primeiro episódio tem como assunto o trabalho. Sem cair em academicismos, Rekret reflete sobre como encaramos o trabalho e como este se interpõe à diversão (work hard-play hard). As referências vão desde teoria marxista até livros como “The Last Night: Anti-Work, Atheism, Adventure” (2013; Zero Books), do italiano mezzo anarquista Federico Campagna.

E o que impressiona é o vasto conhecimento musical de Rekret. Neste primeiro episódio, há faixas como “Work It to the Bone”, lançada em 1987 pela dupla LNR e um clássico da house norte-americana, o grime do jovem JME, o electro do Dj Assault e uma preciosidade dos anos 1940: “Early In The Mornin'”, cantada por trabalhadores de plantação de algodão e recuperada pelo colecionador e ativista Alan Lomax (1915-2002).

Que este Beholder Halfway tenha uma vida longa.

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Por que o Porta dos Fundos não é mais o mesmo? http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/por-que-o-porta-dos-fundos-nao-e-mais-o-mesmo/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/por-que-o-porta-dos-fundos-nao-e-mais-o-mesmo/#respond Tue, 01 Dec 2015 20:05:23 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=68 “O Brasil é um país muçulmano? Você tem quantas esposas?”.

Poucas coisas são mais sem graça do que tentar explicar em um texto uma piada feita em vídeo, mas as perguntas acima fazem parte da ótima esquete “Imigração”, que o Porta dos Fundos colocou no ar no início de 2015. A cena: um brasileiro é interrogado em uma sala por um oficial da imigração dos EUA, que porta um revólver.

O quadro tem uma receita infalível para fazer rir: a partir de uma situação real (a conexão imediata islamismo/terrorismo; a burocracia que um brasileiro enfrenta para pisar nos EUA), usa faz uso do absurdo para mostrar o quanto essa situação é, em si, esdrúxula.

É um tipo de humor que o Porta dos Fundos pratica desde que foi criado, em 2012. Com esses elementos, adicionados à esperteza de tirar sarro com assuntos banais, o grupo já produziu esquetes antológicas, como o “Setor de RH”, “Sobre a mesa”, “Assembleia Geral”, “Operação”, “Viado” e “Concepção” e “Ajuda”.

Diferentemente de muitos dos comediantes brasileiros, os integrantes do Porta dos Fundos não colocam as minorias como alvo – quando entram nesse território, como em “Viado”, o fazem colocando na mira o agressor, o preconceituoso.

Mas o Porta dos Fundos atualmente parece estar na mesma situação daqueles chefs que deixam a cozinha de seus restaurantes para virar empresários, apresentadores de TV etc.: a chance de piorar a qualidade da comida servida é grande.

E as esquetes do grupo já não têm a mesma força e originalidade de outros tempos. O fato de os integrantes acumularem várias outras atividades pode ter contribuído para a má fase da produção?

Gregório Duvivier hoje escreve livros, uma coluna aqui na Folha de S.Paulo, é ator. Fabio Porchat protagonizou pelo menos seis filmes desde 2012, fez a peça “Meu Passado me Condena”, entre tantos outros projetos. João Vicente de Castro é um dos apresentadores do “Programa de Segunda”, da GNT. Antonio Tabet também pode ser visto no cinema e é, ainda, o vice-presidente de comunicação do Flamengo. A agenda corrida fez com que Gabriel Totoro, por exemplo, deixasse de participar do programa da Sabrina Sato na Record.

Se colocadas lado a lado com a produção mais antiga, as esquetes mais recentes do Porta dos Fundos parecem ter sido feitas por outro time. A habilidade em brincar com o absurdo parece ter desaparecido. Entraram piadas rasteiras (como as  de “Merda” e “Pra Onde?”) e quadros pagos por empresas, como “Reunião de Criação” (bancado pela Ford) e “Supermercado” (pelo Extra).

O grupo ainda estreou a série “O Grande Gonzalez”, na Fox (que é boa). Será que com tudo isso a internet deixou de ser uma prioridade para o Porta dos Fundos?

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Sim, dá para lamentar os ataques a Paris e fazer piada ao mesmo tempo http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/11/17/sim-da-para-lamentar-os-ataques-a-paris-e-fazer-piada-ao-mesmo-tempo/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/11/17/sim-da-para-lamentar-os-ataques-a-paris-e-fazer-piada-ao-mesmo-tempo/#respond Tue, 17 Nov 2015 19:02:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=62 Stephen Colbert em programa exibido na segunda (16) - Reprodução
Stephen Colbert em programa exibido na segunda (16) – Reprodução

Em meio à dor, ao espanto e às análises que tentam explicar os ataques cometidos em Paris pelo Estado Islâmico, algumas vozes se destacam ao abordar esses acontecimentos com uma certa racionalidade que falta a muitos comentaristas políticos. Estou falando de vários comediantes da TV norte-americana.

Tudo bem que Stephen Colbert, John Oliver e Trevor Noah deixaram de ser apenas comediantes quando assumiram o comando de seus programas, mas eles ainda usam o humor como um material essencial do trabalho.

Na sexta-feira, quando ocorreram os ataques, a maioria dos talk shows dos EUA exibe episódios gravados, por isso deixaram para tratar do assunto na noite de segunda.

O cara que me parece que mais acertou foi Stephen Colbert, que há não muito tempo substituiu David Letterman no “Late Show” que é exibido pela rede CBS. Colbert abriu o programa falando de Paris.

Colbert se solidaria com as vítimas dos atentados e com a população francesa. Brinca com o fato de várias pessoas terem tentado mostrar solidariedade ao assistir a filmes como “Ratatouille” (“Isso é errado? Não. ‘Ratatouille’ é um filme francês? Não. É uma forma de expressão válida? Absoluytamente sim.”) E ainda chama os terroristas do EI de “pussies” (covardes).

Depois, em outro segmento do programa, Colbert recebe o também comediante e apresentados Bill Maher. A diferença entre a sensibilidade de Colbert e a truculência argumentativa de Maher é imensa. (Maher ficou conhecido por afirmar que o Islã é uma religião que tem um viés violento: 1) “As pessoas dizem que o Estado Islâmico sequestrou o Islã. Na verdade, o oposto é que é a verdade”; 2) “O Islã vai te matar se você disser a coisa errada, desenhar a pintura errada ou escrever o livro errado”.)

Nesta segunda, Colbert, que é católico, brinca com o fato de Maher ter virado ateu depois de ter sido criado como católico – “Volte para nós, as portas estão abertas”. Maher diz que Colbert baseia argumentos em mitos criados na Era do Bronze. Colbert responde: Minha religião me ensina a ser humilde.

No canal a cabo Comedy Central, o sul-africano Trevor Noah, que substituiu neste ano o ótimo Jon Stewart, abriu seu programa com um monólogo tocante e com piadas certeiras. Disse que esses ataques terroristas, “sejam em Paris, Beirute ou Quênia, parecem menos com ataques a grupos específicos e mais com ataques à humanidade”.

E brinca com o fato de os franceses terem criado tantas iniciativas para ajudar os feridos: “Arruinaram com o nosso estereótipo de que os franceses são frios e antipáticos. Agora vamos fazer piada com quem? Com os finlandeses?”. Dá para assistir aqui.

Por fim, o inglês John Oliver, apresentador do “Last Week Tonight”, da HBO, aproveitou que a emissora não censura palavrão e mandou vários “fuck you” para o Estado Islâmico.

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Série “Master of None” usa humor desconcertante para discutir preconceitos http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/11/11/serie-master-of-none-faz-humor-desconcertante-para-abordar-preconceitos/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/11/11/serie-master-of-none-faz-humor-desconcertante-para-abordar-preconceitos/#respond Wed, 11 Nov 2015 18:45:01 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=54 O preconceito contra imigrantes, o racismo e a maneira estereotipada com a qual são tratadas minorias como os gays formam um material já bastante utilizado por várias séries de TV. Mas nenhuma trata desses temas de forma tão direta, aguda e desconcertante (e engraçada) como “Master of None”, criada e estrelada pelo comediante Aziz Ansari e que tem os dez episódios (de 30 minutos cada um) da primeira temporada disponíveis no Netflix (que banca o seriado) desde a sexta-feira passada (dia 6), inclusive no Brasil.

A premissa de “Master of None” é quase raquítica: Aziz Ansari (norte-americano filho de indianos) é Dev, um ator que mora em Nova York e que fez um ou dois comerciais de sucesso, mas que não consegue se afirmar no cinema e na TV. Sem namorada, ele passa boa parte do tempo no bar com amigos como Denise (uma negra lésbica), Arnold (praticamente um adolescente de uns 30 e poucos anos) e Brian (um nerd descendente de chineses). E é isso.

E não há muito também no primeiro episódio (o mais fraco dessa primeira temporada), no qual Ansari e Arnold vão à festa de aniversário do filho de um amigo. É divertido, tem várias piadas certeiras sobre paternidade, mas “Master of None” revela-se uma das mais espertas do momento a partir do segundo capítulo. É a partir daí que acerta o foco.

Nesse segundo episódio, Dev e Brian questionam como o passado dos pais (os do primeiro, na Índia; os do segundo, na China) e a mudança para os EUA influenciou o modo como eles (Dev e Brian) vivem e quem se tornaram. Os pais sofreram, mas não são tratados com condescendência. Os filhos levam uma vida menos castigada, mas também têm de enfrentar desafios – como o wi-fi que cai com frequência.

Cena de 'Master of None' - Divulgação
Cena de ‘Master of None’ – Divulgação

Os problemas de relacionamento de Dev são o centro do terceiro episódio. Ele ganha dois ingressos para um show fechado do Father John Misty (cantor indie norte-americano) e não sabe quem deveria convidar. Acaba levando a garçonete do bar. No episódio seguinte, um dos mais surpreendentes, Dev e um amigo também de ascendência indiana, disputam papeis em um seriado de TV que terá três protagonistas homens. Será que a emissora toparia colocar dois indianos no elenco? A resposta é meio óbvia – mas as situações e piadas que saem disso, não.

Para colocar “Master os None” em pé, Ansari teve como parceiro Alan Yang. Os dois haviam trabalhado juntos em “Parks and Recreation” (Ansari como ator, Yang como roteirista). A iniciativa deu certo – a série tem média de 8,7 (o máximo é 10) no site Rotten Tomatoes, a partir de 44 críticas. Assim como Jon Stewart usou a comédia para, em seu talk show, dissecar sem dó o sistema político dos EUA, Ansari parte do humor para revelar como o preconceito está entranhado na sociedade.

(E Azis Ansari foi nesta terça-feira ao programa do Stephen Colbert, na rede CBS, da televisão norte-americana. Os dois brincaram com o fato de terem nascido na Carolina do Sul. Veio o diálogo:
Ansari: Você é o primeiro cara da Carolina do Sul a apresentar um talk show. E o bilionésimo branco. É uma forma interessante de prograsso.
Colbert: Você tem comentado a falta de pessoas de cor, minorias na televisão. Ter você no meu programa não conta?
Ansari: Hum, sim. Agora temos uma divisão de 50%. É um recorde para a CBS!)

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Na internet, os popstars são gente como a gente http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/11/09/na-internet-os-popstars-sao-gente-como-a-gente/ http://play.blogfolha.uol.com.br/2015/11/09/na-internet-os-popstars-sao-gente-como-a-gente/#respond Tue, 10 Nov 2015 02:11:56 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15308311.jpeg http://play.blogfolha.uol.com.br/?p=43 Rafinha Bastos: Por que especificamente hoje você ficou nervosa?
Gabi Luthai: Porque é como se fosse um sonho realizado. É um reconhecimento, eles me consideram uma youtuber. Isso é o maior orgulho. Conheço vários artistas, admiro vários, mas quando eu vejo um youtuber, fico assim…
Rafinha Bastos: É quase como um cara de rock fazer um show no Rock in Rio.
Gabi Luthai: É tipo isso, exatamente!

O diálogo acima resume bem o que está acontecendo em torno de um grupo cada vez mais numeroso de jovens brasileiros que são seguidos por uma infinidade de fãs, ganham (bom) dinheiro executando performances que abordam temas como música/humor/gastronomia/comportamento e que distribuem conteúdo por meio de plataformas de vídeo.

Um dos mais conhecidos comediantes do país, Rafinha Bastos foi uma espécie de mestre de cerimônias da primeira edição brasileira de uma Youtube Fanfest, ocorrida no Audio Club, em São Paulo, em 5 de novembro. Já Gabi Luthai é uma mineira de Araxá que tem 22 anos e mais de 1,1 milhão de seguidores de seu canal no YouTube (a página no Facebook foi curtida por mais de 2,8 milhões).

Antes da conversa com Rafinha, Gabi Luthai se apresentou no palco da Fanfest, por onde passaram ainda dezenas de outros youtubers. Depois de ver a performance ao vivo, a impressão que ficou é: como uma jovem que canta música romântica meio careta consegue arrastar para si centenas de milhares de fãs que, neste século 21, têm o poder de, com alguns cliques, se conectar com qualquer artista do planeta? Por que escolhem Gabi Luthai? A resposta está na conversa com Rafinha Bastos.

Gabi Luthai: Tenho o meu canal (no YouTube) há cinco anos, desde 2010, sou “velha”.
Rafinha Bastos: Mas por que você demorou para bombar?
Gabi Luthai: Eu era muito tímida, parecia um pau tocando, não tinha um diferencial. Mas então comecei a cantar outros tipos de música e a interagir com a câmera. E aí a galera começou a gostar.

Neste mundo do entretenimento digital, em que uma curitibana de 22 anos chamada Kéfera Buchmann chega a ter quase 10 milhões de seguidores no YouTube e que é capaz de causar um pequeno tumulto na Bienal do Livro do Rio, o talento artístico (essa coisa tão subjetiva, como prova a minha decepção com a música de Gabi Luthai) é apenas parte de uma receita que tem como ingredientes principais: 1) falar a língua do fã; 2) se comportar como os fãs.

Praticamente sem exceção, todos os youtubers bem-sucedidos não ligam se a produção de seus vídeos é meio tosca, se cometem algum erro, se o áudio tem defeitos, se tropeçam no português – pelo contrário: quanto mais coloquial, melhor. Gírias e palavrões? Sem problema. E em encontros e eventos em que têm contato “real” com os fãs, não se escondem em salas VIP – se misturam aos fãs, trocam ideias.

É o que está na essência de gente como Cauê Moura, que descreve seu canal no YouTube como “vídeos que ofendem a família brasileira” e que tem debaixo de seu guarda-chuva mais de 3,8 milhões de seguidores (e 306 milhões de visualizações), números impressionantes que o incentivaram a abrir uma loja (online, claro) que vende camisetas, bermudas, bonés e capas para celular.

Cauê produz vídeos em que faz comentários tirando sarro de notícias, faz listas de melhores filmes de gangsters, mas na Fanfest cantou o rap “Pracabá” (trecho da letra: “Se quiser me ver na Globo, irmãoNão vai custar pouco/ Ali é puro chorume/ Mas tem quem destoa/ Adnet e Werneck/ Dois mano gente boa/ Até assisto um Telecine/ Mas prefiro a Marquezine”).

Gente como Caué Moura e Mussoumano (outro que faz rap zoeira e se apresentou na Fanfest), ou como PC Siqueira e Otávio Albuquerque (Rolê Gourmet), que no palco da Fanfest ensinaram a preparar um sanduíche americano, revelam outro componente que está no DNA dos principais youtubers brasileiros: o humor. Para eles, a seriedade não está com nada. O negócio é tirar sarro.

E esse “digital way of life”, coloquial, bem humorado, está se disseminando para além de seu habitat. Não é à toa que William Bonner, no “Jornal Nacional”, recentemente passou a chamar cidades como Belo Horizonte e Florianópolis por “Beagá” e “Floripa”. Bonner teve no ar um diálogo revelador com a apresentadora do tempo do “JN”, Maria Júlia:

William Bonner: Para terminar, o que você prefere: ser chamada de Maria Júlia ou de Maju, como você se intitula nas redes sociais e o teu público, os seus fãs, ficam pedindo para nós?
Maria Júlia: Eu prefiro Maju
William Bonner: Renata (Vasconcellos), a partir de hoje, Maria Júlia passa a ser Maju.

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